sexta-feira, 17 de maio de 2024

Quem amamos é quem mais nos machuca.

 Em psicanálise, sentimentos de dor ou mal-estar causados por palavras de uma pessoa querida, como um namorado ou amigo verdadeiro, estão profundamente enraizados na nossa estrutura psíquica e nos nossos relacionamentos. Freud propôs que nossos vínculos afetivos formados durante a infância, influenciam intensamente nossas relações adultas. Quando seu ente mais querido fere seus sentimentos, a intensidade da dor pode estar ligada à importância que ele ocupa em sua vida emocional, evocando experiências passadas e expectativas inconscientes de afeto, aceitação e segurança.


O fato de se sentir mais afetado pelas palavras de seu namorado do que pelas palavras de outras pessoas pode estar relacionado à transferência, um conceito psicanalítico que descreve como sentimentos, desejos e expectativas que temos em relação a figuras parentais são projetados em nossos parceiros. Você pode, inconscientemente, atribuir ao seu namorado um papel central em sua vida emocional, esperando dele o mesmo cuidado e proteção que esperava de figuras parentais na infância. Assim, quando ele não corresponde a essas expectativas ou, pior, as viola, a dor é mais profunda.


Além disso, a psicanálise sugere que o investimento emocional que fazemos em um relacionamento amoroso é muito maior do que em outros tipos de relação. Nesse contexto, seu namorado ou grande amigo pode representar não apenas uma figura amorosa, mas também uma extensão sua, onde seu valor e identidade estão, de certa forma, envolvidos. Por isso, o impacto de suas palavras tem o poder de atingir partes vulneráveis do seu eu, gerando sentimentos de dor, rejeição ou inadequação.


Por outro lado, o fato de você não se importar tanto quando outras pessoas fazem o mesmo pode indicar que, para elas, você não projeta as mesmas expectativas emocionais. Com estranhos ou conhecidos, os vínculos emocionais são menos intensos, e as palavras, por mais dolorosas que possam ser, não atingem as mesmas camadas profundas da psique. Esses comentários podem ser até mesmo ignorados, porque eles não ativam os mesmos conflitos e vulnerabilidades inconscientes que um parceiro amoroso ativa.


Esse tipo de sentimento pode indicar uma oportunidade para reflexão e autoconhecimento. Entender a origem dessas emoções e como os relacionamentos passados moldam as expectativas atuais pode ajudar a lidar melhor com essas situações. Além disso, isso pode permitir um diálogo mais aberto com seu parceiro, visando a construção de um relacionamento mais saudável, onde os sentimentos de ambos sejam respeitados e compreendidos.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Doenças Emocionais no Ambiente do Trabalhador

No dia do trabalhador, é importante refletir não apenas sobre os direitos e conquistas dos trabalhadores, mas também sobre os desafios emocionais que podem surgir no ambiente profissional. As pressões do trabalho, as relações interpessoais e o ambiente corporativo podem desencadear uma série de doenças emocionais, afetando a saúde mental e emocional dos funcionários.

Uma das questões mais relevantes é a relação entre as personalidades e o ambiente de trabalho. Personalidades autoritárias, por exemplo, podem criar um clima de tensão e medo no grupo, afetando negativamente a saúde emocional dos funcionários. Apesar de ser um líder nato, esse tipo tende a ser dominador, inflexível e pouco receptivo a opiniões divergentes, o que pode gerar um ambiente hostil e desmotivador.

Por outro lado, personalidades submissas podem ser vítimas de abusos e exploração no local de trabalho. Esses funcionários tendem a evitar conflitos e confrontos, permitindo que superiores ou colegas de trabalho ajam de forma inadequada ou abusiva. A falta de autoconf pode levar a um acúmulo de estresse e sentimentos de impotência, contribuindo para o desenvolvimento de doenças emocionais.

Além disso, o ambiente de trabalho também pode ser afetado por personalidades tóxicas, tanto de chefes quanto de empregados. Chefes tóxicos podem ser manipuladores, narcisistas ou agressivos, criando um clima de instabilidade e desconfiança na equipe. Já empregados com comportamentos tóxicos podem disseminar fofocas, sabotar colegas de trabalho ou criar conflitos desnecessários, prejudicando o ambiente de trabalho e a saúde emocional de todos os envolvidos.

Um dos principais desafios emocionais enfrentados pelos trabalhadores é o Burnout. Trata-se de uma síndrome caracterizada pelo esgotamento físico e emocional causado pelo excesso de trabalho, pressão e estresse crônico. Os sintomas incluem exaustão física e emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal. Identificar se você está sofrendo de Burnout pode ser difícil, mas alguns sinais incluem sentir-se constantemente cansado, irritado, desmotivado e incapaz de lidar com as demandas do trabalho.

É importante ressaltar que, embora seja útil reconhecer os sinais de Burnout, a consulta com um terapeuta é fundamental para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado. Um terapeuta pode ajudar a identificar as causas subjacentes do estresse e oferecer estratégias para lidar com o Burnout, como técnicas de relaxamento, escuta ativa, e terapia cognitivo-comportamental.

Em conclusão, as doenças emocionais no ambiente de trabalho são uma realidade preocupante que afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo. Ao compreender as diferentes personalidades que podem influenciar o ambiente de trabalho e estar atento aos sinais de Burnout, os trabalhadores podem tomar medidas para proteger sua saúde mental e buscar apoio profissional quando necessário.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Dinâmicas Psíquicas na Comunicação Interpessoal no Ambiente Laboral

Introdução

Em ambientes corporativos na sociedade contemporânea, faz-se necessário que haja um maior cuidado com as emoções individuais para melhorar a comunicação interpessoal entre funcionários a fim de que haja um ambiente harmônico. Dentre os níveis de abordagem ao enfocar as emoções no trabalho, trago as variáveis individuais e a forma de interação dentro da equipe. Os diversos aspectos inerentes a estes dois níveis remetem aos diversos aspectos comportamentais que funcionam de maneira mútua. Ao longo deste artigo, ao explorar os papéis organizacionais de líder e de liderado, pretendo expor as subjetividades psíquicas que vão conduzir os indivíduos nas relações interpsíquicas (relação com o outro) e intrapsíquicas (interna).

Julgo vital entendermos o que é esperado em uma interação interpessoal organizacional e, desta maneira, devemos realizar uma autoavaliação, à luz da psicanálise, sobre nossa estruturação libidinal. A grosso modo, libido é uma força impulsiva que nos direciona em busca do prazer, obtendo avanços ou retrocessos, perpassando conflitos e criando pontos de fixação que retornarão como traços de personalidade ou comportamentos presentes até a vida adulta quando uma crise emocional aparecer.

Aqui, a prioridade não é expor sobre as fases de desenvolvimento psicossexual, mas as organizações psíquicas oriundas de seus pontos de fixação para elucidar comportamentos e emoções em contexto organizacional entre líderes e liderados.

1. Comunicação e Neurose no Contexto Profissional

Freud afirmava que “neuróticos somos todos”, pois todos queremos realizar nossos desejos (pulsão libidinal) mas não é sempre que podemos realiza-los imediatamente. Dentro do ambiente corporativo ou trazido na bagagem psíquica, os indivíduos podem apresentar certo grau de sofrimento e desadaptação. O que acarreta deste sofrimento é manifestado em alterações de comportamentos que podem ter um alto grau de conflitos neuróticos inconscientes que atrapalham nossa rotina com sintomas. Entretanto, nosso formidável Ego não quer vivenciar estes conflitos, então ele ativa seus mecanismos de defesa para se/nos proteger.

Em minha pesquisa para este artigo, os mecanismos de defesa que o Ego dos indivíduos mais utiliza são: recalcamento, regressão e sublimação. Estes serão expostos abaixo.

2. Psicose na Liderança

A posição de líder dentro de uma organização é bastante solitária, ao passo que o líder é o exemplo e dissemina valores, autenticidade, transparência e verdade aos liderados. Com este grande peso da função que exerce, não é de se estranhar que líderes desenvolvam estado mental psicótico, perdendo a ligação com a realidade. Há líderes psicóticos que mudam de personalidade, têm os pensamentos desordenados e problemas sociais, assim como dificuldades ao realizar as tarefas.

Na psicose, o Ego está fragmentado, dando espaço para que o Id crie uma realidade para se defender e suportar a angústia e o sofrimento. O mecanismo de defesa psicótico mais percebido foi a Idealização, que é uma fantasia e negação da realidade para defender o psiquismo do desamparo registrado no inconsciente: o líder enxerga no liderado somente o que ele gostaria que o liderado fosse.

3. Esquizofrenia na Dinâmica do Grupo

Nesta configuração, a equipe não age de forma unida; ao contrário, há uma desagregação que traz pontos de fixação das fases oral e anal do desenvolvimento psicossexual: incapacidade de cumprir tarefas sem a supervisão do líder, fofocas, dificuldades em expressar sentimentos e competitividade, para mencionar alguns. Sendo a esquizofrenia uma das condições que mais afastam trabalhadores, o Id cria uma realidade alternativa que pode acompanhar alucinações, alterações do raciocínio lógico, isolamento e distanciamento. Estas manifestações fragmentam a comunicação e a construção de relações colaborativas.

4. Líderes como Figuras Parentais

Pode-se afirmar que o líder é o profissional na organização que tem a possibilidade de enfrentar obstáculos para defender os interesses dos liderados e correr riscos para cumprir metas. Coincidentemente ou não, estas características fazem alguns liderados enxergarem os líderes como figura de pai ou mãe, mesmo que inconscientemente. Há um conjunto de sentimentos, comportamentos e afetos parentais que o liderado transfere ao líder.

Há, também, os líderes que sentem a necessidade afetiva de ser pai ou mãe de liderados. Sobre esta relação, Freud abordou a ideia de transferência, onde os padrões emocionais e as relações do passado são transferidos para as interações presentes. Se um líder desenvolve uma dependência emocional e assume o papel de pai ou mãe para seus liderados, isso poderia ser elaborado como uma manifestação da transferência de conduções parentais não resolvidas.

Freud dizia que compreender essas dinâmicas inconscientes, tanto as do líder quanto as dos liderados, poderia levar a insights e, essencialmente, à resolução desses padrões.

5. Estudos de Caso

Dentre os cinquenta e dois líderes e liderados participantes da pesquisa, 58% disseram que costumam sentir ansiedade excessiva no ambiente de trabalho. Em situações de estresse durante a carga horária, há diversos momentos de pressão que não são elaborados de forma consciente: muitos perdem o controle emocional com choro intenso e alguns até sublimam a energia libidinal se ocupando com mais trabalho para não ter que lidar com as situações.

Pode-se perceber que as relações interpessoais entre líderes e liderados é quase predominantemente superficial com sentimentos de não-realização profissional. As dificuldades de comunicação com a equipe é enorme e o feedback não é eficaz, ou é até mesmo inexistente. Mais líderes do que liderados disseram que sentem necessidade de feedback para afirmar sua posição na corporação; ao passo que alguns liderados disseram que ficam chateados quando o feedback é composto por críticas, levando-as para o lado pessoal.

Quando perguntados sobre como se sentem diante das responsabilidades no ambiente de trabalho, 70% dos respondentes se sentem incapacitados de cumprir com as metas pelos seguintes motivos: auto cobrança excessiva, falta de apoio, desorganização, sentimento de estar a deriva. Lidar com mudanças e manter uma rotina habitual são tarefas que mostraram gerar bastante ansiedade e perda da qualidade de sono. A medida que 50% reconhece que têm hábitos obsessivo-compulsivos com desequilíbrio emocional no ambiente de trabalho, destes 70% já buscou ajuda profissional.

6. Estratégias de Intervenção Terapêutica

A psicanálise pode oferecer tratamento para autoconhecimento e melhora da comunicação interpessoal, promovendo um ambiente de trabalho saudável. Encontrar um psicanalista que te leve a construir uma relação de confiança para facilitar a comunicação aberta e o entendimento das suas manifestações psíquicas é de suma importância. Nas sessões psicanalíticas você investigará pensamentos, sentimentos e memórias latentes, permitindo que você compreenda suas motivações e comportamentos de maneira eficaz. O foco será sempre em lidar com questões mais profundas e explorar suas resistências à comunicação, ajudando a superar barreiras limitantes. Leve para a análise as questões que você enfrenta no ambiente corporativo, visando investigar padrões relacionais para entender melhor as dinâmicas psíquicas no contexto profissional.

Conclusão

Fica evidente que manter uma relação saudável dentro de um ambiente corporativo não é de todo uma experiência fácil, pois cada líder e cada liderado é uma pessoa única, individual. Com as exigências do Id e as censuras do Superego, o Ego entra em ação para fugir do desprazer desse conflito psíquico.

Os pontos de fixação em fases de desenvolvimento psicossexual observados nesta pesquisa mostram que o investimento objetal fora deturpado e que as manifestações psíquicas na vida adulta fazem uma regressão para lidar com a situação, retomando antigos comportamentos infantis, típicos de um período inicial da vida.

Freud disse que a psicopatologia é parte do cotidiano de todas as pessoas, logo não há motivo para se estressar (mais)!

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Influência das Redes Sociais Digitais na formação de Identidades e Ansiedades

I. Introdução

Uma abordagem psicanalítica contemporânea considera as complexidades das interações on-line e o impacto no uso das redes sociais, reconhecendo que as plataformas digitais têm um papel crucial na formação da adolescência psíquica (até os 27 anos de idade), influenciando a autoimagem e a constante busca por validação.

A psicanálise explora os desafios emocionais nas redes sociais digitais, destacando a desconexão emocional, ansiedade e depressão como preocupações relevantes.

O entendimento das ansiedades modernas é abordado sob a perspectiva psicanalítica buscando estratégias específicas para lidar com as demandas únicas da sociedade contemporânea. Além disso, há uma investigação ativa na confluência entre a neurociência e a urgência emocional na tão famigerada era digital, buscando correlações entre os padrões neurais e o comportamento emocional.

Em resumo, em 2024 o maior desafio de psicanalistas será o de se empenhar em integrar os princípios fundamentais de Freud às dinâmicas complexas da era digital, visando compreender e abordar as questões emocionais emergentes na vida dos indivíduos nesse contexto tecnológico, visto que a tecnologia faz parte do contexto social e as relações virtuais avançam rapidamente enquanto a maturidade desacelera.

II. Influência das Redes Sociais na Formação da Identidade do Indivíduo

Há uma década, e com maior foco durante a pandemia de COVID-19, onde a maior exposição social se deu sem interação física entre os indivíduos, a presença virtual tornou-se um terreno fértil para a construção da identidade social. O excesso de exposição nas redes sociais, entretanto, não apenas reflete, mas influencia a autoimagem e a autoestima, criando uma interconexão entre o self real e o digital. A psicanálise revela que a busca por validação on-line é uma expressão contemporânea do desejo fundamental de reconhecimento e aceitação. Essa eterna busca por aprovação virtual sugere uma vulnerabilidade latente, revelando a necessidade contínua de compreender as dinâmicas psíquicas que moldam as interações digitais e impactam a formação da identidade na sociedade atual.

III. Desafios Emocionais na Era das Redes Sociais Digitais

Na interação digital emergem emoções complexas que a psicanálise busca compreender. A análise das dinâmicas emocionais on-line revela uma interconexão entre a expressão virtual e as emoções profundas do indivíduo. A desconexão emocional, fenômeno psicanalítico contemporâneo, reflete-se nas relações digitais, onde o isolamento e a superficialidade muitas vezes substituem a autenticidade emocional. Essa desconexão pode gerar consequências significativas, impactando a saúde mental e os relacionamentos cara a cara. A psicanálise explora as raízes psíquicas dessa desconexão, desvelando os mecanismos de defesa que surgem na interação digital. Nesse contexto, considerações sobre ansiedade e depressão na era digital destacam-se como desafios psicológicos urgentes, exigindo uma compreensão psicanalítica sensível às nuances emocionais do mundo virtual. Criamos uma idealização além das aparências quando pensamos que o feed do outro está sempre melhor que o nosso. Quando paramos para observar, o que nós descobrimos? Nesta autoanálise, compreendemos que temos dificuldade em mostrar nossa realidade, então buscamos subterfúgios nas redes sociais digitais.

IV. Compreensão e Tratamento das Ansiedades Modernas

A psicanálise de Freud, combinada com perspectivas contemporâneas, compreende as ansiedades decorrentes da exposição às redes sociais digitais como uma manifestação da busca por reconhecimento e validação. Freudianamente, as redes sociais digitais podem ser vistas como espaços psicodinâmicos para atender às necessidades do ego e do superego.

O ego, em busca de gratificação e reconhecimento, encontra nas interações on-line uma arena para construir uma imagem idealizada de si mesmo. A busca por likes e comentários alimenta a necessidade de validação social e reforça a autoestima.

Quanto ao superego, as redes sociais também podem servir como plataformas para a internalização de normas sociais e ideais culturais. A pressão por conformidade, a busca por padrões estéticos e comportamentais específicos on-line reflete a influência do superego na autorregulação do comportamento.

Psicanalistas contemporâneos exploram a influência das dinâmicas on-line no inconsciente, destacando a pressão por conformidade e a comparação constante. Estratégias terapêuticas incluem análise das transferências digitais, desconstrução de idealizações on-line e desenvolvimento de uma autoimagem mais realista.

Tratamentos com psicanálise focados na autorreflexão e desconstrução de padrões de pensamento disfuncionais, e a terapia cognitivo-comportamental direcionada a modificar comportamentos e pensamentos negativos podem ser eficazes na abordagem das ansiedades relacionadas à exposição nas redes sociais.

V. Neurociência e a Necessidade Urgente de Redes Sociais Digitais

A neurociência empreende a investigação das bases neurais da urgência emocional na era digital, destacando conexões intrincadas entre o cérebro e comportamentos emocionais nomofóbicos associados às redes sociais. A nomofobia, ou o medo de ficar sem o telefone celular, revela-se como um fenômeno contemporâneo em que a urgência emocional se manifesta de maneira intensa.

A compreensão neurocientífica dessas respostas emocionais oferece insights sobre os circuitos cerebrais subjacentes, esboçando padrões de ativação neuronal durante interações digitais e desconexão virtual. As implicações para a psicanálise residem na incorporação desses conhecimentos, permitindo uma abordagem mais holística. A compreensão das bases neurais da urgência emocional oferece um terreno comum para a neurociência e a psicanálise dialogarem, promovendo uma visão integrada do comportamento emocional na era digital. O analista, ao considerar essas descobertas, pode adaptar suas estratégias terapêuticas, reconhecendo a interação entre o ambiente digital e os processos mentais profundos, enriquecendo assim a compreensão e o tratamento das questões emocionais contemporâneas.

O uso de redes sociais digitais pode envolver a ativação de vários neurotransmissores no cérebro. Dois neurotransmissores comumente associados a essa interação são a dopamina e a serotonina.

A Dopamina está envolvida no sistema de recompensa e é liberada durante atividades prazerosas, incluindo receber likes, comentários e interações positivas nas redes sociais. Essa sensação de recompensa pode criar uma associação positiva com o uso dessas plataformas, contribuindo para padrões de comportamento repetitivos.

A Serotonina é o neurotransmissor que desempenha um papel crucial no regulamento do humor e das emoções. A exposição a conteúdos emocionais nas redes sociais pode influenciar a liberação de serotonina, afetando o estado emocional do usuário.

Essas respostas neuroquímicas podem criar um ciclo de recompensa que contribui para o engajamento contínuo nas redes sociais. No entanto, é importante notar que as respostas neuroquímicas podem variar entre indivíduos e dependem de vários fatores, incluindo personalidade, experiências passadas e o contexto geral de uso das redes sociais.

Em contrapartida, o uso excessivo das redes sociais digitais pode influenciar negativamente alguns neurotransmissores, embora seja importante notar que a resposta neuroquímica pode variar entre indivíduos. Alguns neurotransmissores que podem ser afetados incluem os mesmos descritos acima que trazem satisfação e felicidade, assim como outros dois neurotransmissores importantes.

Embora a dopamina seja associada a recompensas e prazer, um uso excessivo das redes sociais, especialmente em situações de comparação constante, pode levar a necessidade de recompensa constante e trazer dificuldades para lidar com a ansiedade. Nesse cenário, a hiperatividade e o déficit de atenção se fazem presentes quando precisamos interagir com outro indivíduo, fisicamente.

A exposição constante a conteúdos negativos ou estressantes nas redes sociais pode afetar a regulação da serotonina, contribuindo para alterações no humor e até mesmo para sintomas de ansiedade e depressão.

O uso excessivo das redes sociais pode, em alguns casos, substituir as interações sociais cara a cara, reduzindo a liberação de oxitocina, um neurotransmissor associado ao vínculo social e à confiança.

Embora não seja um neurotransmissor, o cortisol é um hormônio associado ao estresse. Exposição constante a situações de comparação, julgamento e ansiedade nas redes sociais pode contribuir para níveis elevados de cortisol.

Essas influências negativas sobre os neurotransmissores podem contribuir para problemas de saúde mental quando o uso das redes sociais se torna excessivo ou desencadeia emoções negativas de forma consistente.

VI. Conclusão

Em um mundo cada vez mais digital, o sofrimento emocional torna-se intricadamente entrelaçado com as complexidades da era virtual. Convido todos os indivíduos que estão lendo este artigo a reconhecer a importância da abordagem psicanalítica como uma ferramenta valiosa para compreender e tratar as questões emocionais contemporâneas. Reforço que não é sobre você não utilizar redes sociais digitais, mas é sobre você saber utilizá-las e saber externalizar suas emoções.

Para aqueles que enfrentam angústias na era digital, considere a busca por tratamento psicanalítico. A psicanálise oferece uma compreensão profunda das dinâmicas inconscientes relacionadas às interações on-line, proporcionando uma jornada rumo à autorreflexão e bem-estar emocional.

Aos psicanalistas, é o momento de se especializar no entendimento e tratamento dos distúrbios emocionais decorrentes da era digital. Abraçar a integração de abordagens psicanalíticas nesse contexto é vital para oferecer suporte eficaz àqueles que buscam compreensão e cura.

sábado, 6 de janeiro de 2024

A Diversidade de Identidades de Gênero sob a Lente Psicanalítica na Sociedade Atual

A sociedade contemporânea está passando por transformações profundas no que diz respeito à compreensão e aceitação das diversas identidades de gênero. A psicanálise, como disciplina que busca desvendar as complexidades da mente humana, oferece uma perspectiva única para analisar essas mudanças e compreender a interação entre identidade de gênero e psique.

I. Introdução

No contexto atual, a diversidade de identidades de gênero desafia as estruturas tradicionais, demandando uma abordagem psicanalítica sensível e inclusiva. Este artigo explora como a psicanálise pode lançar luz sobre os processos psíquicos envolvidos na construção e vivência das identidades de gênero.

II. Identidade de Gênero: Uma Construção Psicanalítica

A psicanálise propõe que a identidade de gênero é formada por uma interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Examina-se a influência do inconsciente na formação da identidade de gênero, considerando as expectativas culturais e as pressões sociais que moldam o self.

iII. Desconstruindo Estigmas e Preconceitos

A psicanálise contemporânea busca desconstruir estigmas associados às identidades de gênero não normativas. Analisa-se como os estereótipos de gênero são internalizados e o impacto dessas construções na saúde mental, enfatizando a importância da aceitação e respeito pela diversidade.

IV. Psicanálise e Transcendência de Binários de Gênero

Explora-se como a psicanálise pode contribuir para a transcendência de binários de gênero rígidos, promovendo uma compreensão mais fluida e dinâmica da identidade de gênero. Destaca-se a importância da autenticidade na expressão do self e como a análise pode ser um espaço para essa exploração.

V. Psicanálise na Promoção da Saúde Mental

O papel da psicanálise na promoção da saúde mental de indivíduos com identidades de gênero diversas é discutido. Aborda-se a importância do reconhecimento e validação das experiências subjetivas, fornecendo suporte emocional e ferramentas para enfrentar os desafios específicos enfrentados por essa população.

VI. Conclusão

Em síntese, este artigo explora a riqueza da diversidade de identidades de gênero sob a perspectiva da psicanálise contemporânea. Ao compreender as complexidades psíquicas envolvidas, a psicanálise pode contribuir para uma sociedade mais inclusiva e empática, oferecendo insights valiosos para a compreensão e aceitação das diversas expressões de gênero na sociedade atual.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Relacionamentos Disfuncionais

Diversas pessoas idealizam um relacionamento antes mesmo de encontrar um par, colocam bastante carga emocional neste desejo e tendem a buscar pessoas que consideram perfeitas para se relacionar. O que muitos não sabem é que relação perfeita está em falta por diversos fatores. Muitos casais que vemos e conhecemos julgam sua relação como ‘tóxica ‘ ou até mesmo como ‘abusiva’. Há diferenças entre estes dois tipos de relacionamentos disfuncionais, que, a princípio, é a nomenclatura correta, e cada um de nós precisa entender o seu lugar na relação.

Para maior clareza de entendimento entre os dois termos, basta-nos ter em mente a direção do abuso no relacionamento. Quando há um abusador e uma vítima, o relacionamento é considerado abusivo. O outro cenário é quando os dois são abusadores e vítimas porque eles precisam de poder, que oscila entre um e outro. Este último configura um relacionamento tóxico. Nós jamais quereríamos assumir um relacionamento disfuncional, seja ele tóxico ou abusivo. Somente com terapia é que o véu cai dos olhos e nós poderemos nos entender e nos mudar para mudar ou sair da relação. 

Eu gosto de sempre deixar claro aos meus pacientes a simples equação 2=1+1, o que mostra a relação (2) sendo divisível, cada um precisa se doar para contribuir a fim de que a relação comece a funcionar. E este é um processo diário, não é somente no início.

Entenda a palavra relação como sendo todas as interações verbais e não verbais que temos ao longo da vida ou até mesmo diariamente. No que tange ao relacionamento amoroso, alguns sinais e padrões de relacionamentos tóxicos se mostram quando o casal não tem interesse em sair juntos, se isolam um do outro. Quando moram juntos, podem não manter contato físico até mesmo dentro de casa, pois a indiferença e a desvalorização é mútua. Os dois brigam constantemente, até mesmo por pequenos motivos. Como o desinteresse é grande, cada um encontra refúgio em algum outro lugar, o que, na psicanálise, é o que chamamos de deslocamento da libido. Quando nós vivemos com uma outra pessoa, passamos a conhecer essa pessoa. E é através do diálogo que nós vamos saber o que irrita essa pessoa e quais são as fragilidades dela. 

Outra faceta bem delicada onde encontramos relacionamentos disfuncionais é dentro da nossa própria família, seja conosco ou com parentes. Espero que já esteja claro para você, leitor, que em todo relacionamento disfuncional há um poder, tomado ou outorgado, por alguém. O relacionamento tóxico familiar é quando um membro não dá apoio, apenas critica, julga e compara um familiar com outro familiar. Há ciúmes e controle em excesso. Sim, ciúme acontece dentro da família (disfuncional). Sabe-se quando o relacionamento é disfuncional quando a mãe ou o pai é narcisista. Neste caso, eles usam da autoridade de pais para dominar os filhos, para se mostrarem que são superiores. Desta forma os filhos se sentem desvalorizados e até mesmo confusos por serem ameaçados por alguém que eles amam. 

Para a psicanálise, se uma psique sozinha já se enlouquece com as brigas entre o id e o ego, imagine quando duas pessoas com psiques diferentes se juntam para se relacionar! Sendo assim, o lugar onde nosso inconsciente nos coloca é no mesmo lugar onde fomos colocados, ou onde nos colocamos, dentro da relação pai-e-mãe que tivemos na infância. Tendo dito isso, inconscientemente o abusador precisa de uma pessoa para manipular, da mesma forma que a vítima precisa de alguém que a coloque nesta posição. Algumas possíveis causas de alguém ser vítima de um relacionamento tóxico ou abusivo é que a pessoa já tem dificuldades em autoconfiança, preza demasiadamente por agradar o outro, ou até mesmo ignora os sentimentos dos outros. A saúde mental e emocional já estão tão precárias que a vítima projeta suas expectativas no outro e, em quase todas as vezes, se frustra porque dependem desse outro para se sentirem felizes. Este excesso de medo leva a submissão. 

Dentro do ambiente de trabalho, pasmem, há grandes chances de haver relacionamentos tóxico ou abusivos. Em consultórios e nas redes sociais, há pacientes que relatam que o empregador não os valoriza, que os humilha e que criam discórdias entre os empregados. Estas situações se desdobram a ponto de fazer o empregado se isolar, já que é só ele chegar e todos param de falar. Há, ainda, líderes e empregadores que ofendem em forma de elogio, pois sabem que o empregado precisa de emprego e não irá devolver com palavras e não tem com quem reclamar deste comportamento laboral. Em relacionamentos de trabalho tóxicos e abusivos, o rendimento do empregado despenca devido aos abusos. Encontramos aqui a famosa Síndrome de Burnout, onde o empregado adoece, mental e emocionalmente, devido às condições de humilhação dentro do trabalho. 

Algumas situações onde podemos encontrar relacionamentos disfuncionais já foram expostas: conjugal, familiar e laboral. Porém, se faz necessário que entendamos o ciclo do abuso, que explica como as vítimas ficam presas em relacionamentos abusivos. Uma excelente linha do ciclo de abuso é composta por quatro fases: idealização, isolamento, depreciação e descarte. Vamos passear por estas fases a partir de agora.


1. Idealização é, como o nome diz, quando um idealiza como será o relacionamento, seja de qualquer um dos tipos mencionados aqui acima. Porém, é nesta fase que o abusador se interessa na história de vida da vítima, analisando os gestos, as fraquezas, os sonhos, e mais. O abusador demonstra ciúmes e controle, mas justifica dizendo que é para que o relacionamento seja saudável e sincero. 

2. Isolamento é o estágio em que o abusador tenta afastar a vítima de todos que a cercam, diminuindo sua rede de apoio. Com os abusos e depreciações, a vítima acaba não contando para ninguém o que ocorre, pois está na fase de demência temporária, também conhecida como paixão. 

3. Depreciação se dá com críticas, ameaças e promessas falsas, e o abusador culpa a vítima por suas ações e não permite que ela tenha opiniões. 

4. Descarte é a fase de total alienação da vítima, já que ela não é mais objeto de desejo do abusador. 


A única forma de sair de um relacionamento disfuncional (tóxico ou abusivo) é com a equação: acompanhamento terapêutico + rede de apoio. Em sessões de psicoterapia, a vítima será acolhida e preparada para o que possa acontecer. A vítima, que agora é paciente, precisa esvaziar-se dos sentimentos que tem, ponderar o que fazer com seus pertences que ainda lhe restam, com a casa, com os filhos, com as dores emocionais e financeiras. Tendo um psicanalista para ajudar, tornar-se-á menos trabalhoso para buscar uma rede de apoio e um lugar onde possa ficar até que se resolvam as demandas mais urgentes. Faz-se importante salientar que a vítima jamais deverá tentar mudar o abusador no intuito de que ele se torne uma pessoa melhor e cesse os atos verbais e físicos, pois não é culpa da vítima que o abusador seja desta forma. 

Ressalto, também, dois pontos cruciais para o entendimento deste artigo. O primeiro é que, em psicanálise, não existe a palavra ‘vítima’, pois nós estamos em um relacionamento abusivo porque nos colocamos nele inconscientemente. O segundo ponto é que aqui foram usados dois substantivos que podem ser de dois gêneros: ‘vítima’ é um substantivo sobrecomum, que apresenta somente um termo para masculino e feminino; e ‘abusador’ pode ser flexionado de acordo com o gênero

terça-feira, 1 de março de 2022

É sobre isso e ...

Em 2020 tivemos uma frase que ficou bastante popular porque aquecia qualquer coração em momentos de dificuldades. A tal frase é "É sobre isso e tá tudo bem". Você já disse essa frase? Mesmo se você nunca disse, você pode ter ouvido nesses dois primeiros meses do ano.
Recentemente, essa frase retornou na mídia televisiva com os participantes do Big Brother Brasil 2022 para falar sobre o que os desagrada, o que os irrita, mas, ao mesmo tempo, sugerindo que não estavam levando esse problema para o coração, que não se sentiam mais incomodados.

Você já ficou irritadiço com uma pessoa e não queria que o assunto aumentasse e acabou dizendo que estava tudo bem? Eu já. E essa é uma boa forma de escamotear nossos sentimentos, ansiedades, preocupações e até tormento interior e só faz crescer o fardo que a gente carrega. A dor do aborrecimento permanece dentro de nós mesmo depois de mentirmos dizendo que "está tudo bem" por não estarmos dispostos a expressar os sentimentos verdadeiros, fazendo de tudo para fugir das situações de confronto.
E aquelas noites sem sono por causa desses pensamentos perturbadores? Quando a gente coloca a cabeça no travesseiro, tudo fica pior com tormento, angústia, pesadelos e insônia por todas as coisas que negamos durante o dia.
Dizer que tudo está bem quando não está pode levar as pessoas a suprimir o desconforto com bebidas alcoólicas, psicodélicos ou excessos alimentares. E, ainda assim, o rosto feliz e audaz  vai tentar disfarçar a grande angústia e tortura interior.
Para essas pessoas que se tornam mentirosas e superficiais, temos uma essência floral de Bach chamada Agrimony, que nos coloca frente a frente com o que somos de verdade, sendo o floral do conforto tirando nossas máscaras. Essa exposição de quem somos traz uma conversa interior pra trazer para fora os sentimentos lamacentos afim de que a nossa verdade não nós deixe sofrer.

Lembre-se: é sobre isso e nem sempre tá tudo bem.

Quem amamos é quem mais nos machuca.

 Em psicanálise,  sentimentos  de dor ou mal-estar causados por palavras de uma pessoa querida, como um namorado ou amigo verdadeiro, estão ...