domingo, 18 de fevereiro de 2024

Influência das Redes Sociais Digitais na formação de Identidades e Ansiedades

I. Introdução

Uma abordagem psicanalítica contemporânea considera as complexidades das interações on-line e o impacto no uso das redes sociais, reconhecendo que as plataformas digitais têm um papel crucial na formação da adolescência psíquica (até os 27 anos de idade), influenciando a autoimagem e a constante busca por validação.

A psicanálise explora os desafios emocionais nas redes sociais digitais, destacando a desconexão emocional, ansiedade e depressão como preocupações relevantes.

O entendimento das ansiedades modernas é abordado sob a perspectiva psicanalítica buscando estratégias específicas para lidar com as demandas únicas da sociedade contemporânea. Além disso, há uma investigação ativa na confluência entre a neurociência e a urgência emocional na tão famigerada era digital, buscando correlações entre os padrões neurais e o comportamento emocional.

Em resumo, em 2024 o maior desafio de psicanalistas será o de se empenhar em integrar os princípios fundamentais de Freud às dinâmicas complexas da era digital, visando compreender e abordar as questões emocionais emergentes na vida dos indivíduos nesse contexto tecnológico, visto que a tecnologia faz parte do contexto social e as relações virtuais avançam rapidamente enquanto a maturidade desacelera.

II. Influência das Redes Sociais na Formação da Identidade do Indivíduo

Há uma década, e com maior foco durante a pandemia de COVID-19, onde a maior exposição social se deu sem interação física entre os indivíduos, a presença virtual tornou-se um terreno fértil para a construção da identidade social. O excesso de exposição nas redes sociais, entretanto, não apenas reflete, mas influencia a autoimagem e a autoestima, criando uma interconexão entre o self real e o digital. A psicanálise revela que a busca por validação on-line é uma expressão contemporânea do desejo fundamental de reconhecimento e aceitação. Essa eterna busca por aprovação virtual sugere uma vulnerabilidade latente, revelando a necessidade contínua de compreender as dinâmicas psíquicas que moldam as interações digitais e impactam a formação da identidade na sociedade atual.

III. Desafios Emocionais na Era das Redes Sociais Digitais

Na interação digital emergem emoções complexas que a psicanálise busca compreender. A análise das dinâmicas emocionais on-line revela uma interconexão entre a expressão virtual e as emoções profundas do indivíduo. A desconexão emocional, fenômeno psicanalítico contemporâneo, reflete-se nas relações digitais, onde o isolamento e a superficialidade muitas vezes substituem a autenticidade emocional. Essa desconexão pode gerar consequências significativas, impactando a saúde mental e os relacionamentos cara a cara. A psicanálise explora as raízes psíquicas dessa desconexão, desvelando os mecanismos de defesa que surgem na interação digital. Nesse contexto, considerações sobre ansiedade e depressão na era digital destacam-se como desafios psicológicos urgentes, exigindo uma compreensão psicanalítica sensível às nuances emocionais do mundo virtual. Criamos uma idealização além das aparências quando pensamos que o feed do outro está sempre melhor que o nosso. Quando paramos para observar, o que nós descobrimos? Nesta autoanálise, compreendemos que temos dificuldade em mostrar nossa realidade, então buscamos subterfúgios nas redes sociais digitais.

IV. Compreensão e Tratamento das Ansiedades Modernas

A psicanálise de Freud, combinada com perspectivas contemporâneas, compreende as ansiedades decorrentes da exposição às redes sociais digitais como uma manifestação da busca por reconhecimento e validação. Freudianamente, as redes sociais digitais podem ser vistas como espaços psicodinâmicos para atender às necessidades do ego e do superego.

O ego, em busca de gratificação e reconhecimento, encontra nas interações on-line uma arena para construir uma imagem idealizada de si mesmo. A busca por likes e comentários alimenta a necessidade de validação social e reforça a autoestima.

Quanto ao superego, as redes sociais também podem servir como plataformas para a internalização de normas sociais e ideais culturais. A pressão por conformidade, a busca por padrões estéticos e comportamentais específicos on-line reflete a influência do superego na autorregulação do comportamento.

Psicanalistas contemporâneos exploram a influência das dinâmicas on-line no inconsciente, destacando a pressão por conformidade e a comparação constante. Estratégias terapêuticas incluem análise das transferências digitais, desconstrução de idealizações on-line e desenvolvimento de uma autoimagem mais realista.

Tratamentos com psicanálise focados na autorreflexão e desconstrução de padrões de pensamento disfuncionais, e a terapia cognitivo-comportamental direcionada a modificar comportamentos e pensamentos negativos podem ser eficazes na abordagem das ansiedades relacionadas à exposição nas redes sociais.

V. Neurociência e a Necessidade Urgente de Redes Sociais Digitais

A neurociência empreende a investigação das bases neurais da urgência emocional na era digital, destacando conexões intrincadas entre o cérebro e comportamentos emocionais nomofóbicos associados às redes sociais. A nomofobia, ou o medo de ficar sem o telefone celular, revela-se como um fenômeno contemporâneo em que a urgência emocional se manifesta de maneira intensa.

A compreensão neurocientífica dessas respostas emocionais oferece insights sobre os circuitos cerebrais subjacentes, esboçando padrões de ativação neuronal durante interações digitais e desconexão virtual. As implicações para a psicanálise residem na incorporação desses conhecimentos, permitindo uma abordagem mais holística. A compreensão das bases neurais da urgência emocional oferece um terreno comum para a neurociência e a psicanálise dialogarem, promovendo uma visão integrada do comportamento emocional na era digital. O analista, ao considerar essas descobertas, pode adaptar suas estratégias terapêuticas, reconhecendo a interação entre o ambiente digital e os processos mentais profundos, enriquecendo assim a compreensão e o tratamento das questões emocionais contemporâneas.

O uso de redes sociais digitais pode envolver a ativação de vários neurotransmissores no cérebro. Dois neurotransmissores comumente associados a essa interação são a dopamina e a serotonina.

A Dopamina está envolvida no sistema de recompensa e é liberada durante atividades prazerosas, incluindo receber likes, comentários e interações positivas nas redes sociais. Essa sensação de recompensa pode criar uma associação positiva com o uso dessas plataformas, contribuindo para padrões de comportamento repetitivos.

A Serotonina é o neurotransmissor que desempenha um papel crucial no regulamento do humor e das emoções. A exposição a conteúdos emocionais nas redes sociais pode influenciar a liberação de serotonina, afetando o estado emocional do usuário.

Essas respostas neuroquímicas podem criar um ciclo de recompensa que contribui para o engajamento contínuo nas redes sociais. No entanto, é importante notar que as respostas neuroquímicas podem variar entre indivíduos e dependem de vários fatores, incluindo personalidade, experiências passadas e o contexto geral de uso das redes sociais.

Em contrapartida, o uso excessivo das redes sociais digitais pode influenciar negativamente alguns neurotransmissores, embora seja importante notar que a resposta neuroquímica pode variar entre indivíduos. Alguns neurotransmissores que podem ser afetados incluem os mesmos descritos acima que trazem satisfação e felicidade, assim como outros dois neurotransmissores importantes.

Embora a dopamina seja associada a recompensas e prazer, um uso excessivo das redes sociais, especialmente em situações de comparação constante, pode levar a necessidade de recompensa constante e trazer dificuldades para lidar com a ansiedade. Nesse cenário, a hiperatividade e o déficit de atenção se fazem presentes quando precisamos interagir com outro indivíduo, fisicamente.

A exposição constante a conteúdos negativos ou estressantes nas redes sociais pode afetar a regulação da serotonina, contribuindo para alterações no humor e até mesmo para sintomas de ansiedade e depressão.

O uso excessivo das redes sociais pode, em alguns casos, substituir as interações sociais cara a cara, reduzindo a liberação de oxitocina, um neurotransmissor associado ao vínculo social e à confiança.

Embora não seja um neurotransmissor, o cortisol é um hormônio associado ao estresse. Exposição constante a situações de comparação, julgamento e ansiedade nas redes sociais pode contribuir para níveis elevados de cortisol.

Essas influências negativas sobre os neurotransmissores podem contribuir para problemas de saúde mental quando o uso das redes sociais se torna excessivo ou desencadeia emoções negativas de forma consistente.

VI. Conclusão

Em um mundo cada vez mais digital, o sofrimento emocional torna-se intricadamente entrelaçado com as complexidades da era virtual. Convido todos os indivíduos que estão lendo este artigo a reconhecer a importância da abordagem psicanalítica como uma ferramenta valiosa para compreender e tratar as questões emocionais contemporâneas. Reforço que não é sobre você não utilizar redes sociais digitais, mas é sobre você saber utilizá-las e saber externalizar suas emoções.

Para aqueles que enfrentam angústias na era digital, considere a busca por tratamento psicanalítico. A psicanálise oferece uma compreensão profunda das dinâmicas inconscientes relacionadas às interações on-line, proporcionando uma jornada rumo à autorreflexão e bem-estar emocional.

Aos psicanalistas, é o momento de se especializar no entendimento e tratamento dos distúrbios emocionais decorrentes da era digital. Abraçar a integração de abordagens psicanalíticas nesse contexto é vital para oferecer suporte eficaz àqueles que buscam compreensão e cura.

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