sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Dinâmicas Psíquicas na Comunicação Interpessoal no Ambiente Laboral

Introdução

Em ambientes corporativos na sociedade contemporânea, faz-se necessário que haja um maior cuidado com as emoções individuais para melhorar a comunicação interpessoal entre funcionários a fim de que haja um ambiente harmônico. Dentre os níveis de abordagem ao enfocar as emoções no trabalho, trago as variáveis individuais e a forma de interação dentro da equipe. Os diversos aspectos inerentes a estes dois níveis remetem aos diversos aspectos comportamentais que funcionam de maneira mútua. Ao longo deste artigo, ao explorar os papéis organizacionais de líder e de liderado, pretendo expor as subjetividades psíquicas que vão conduzir os indivíduos nas relações interpsíquicas (relação com o outro) e intrapsíquicas (interna).

Julgo vital entendermos o que é esperado em uma interação interpessoal organizacional e, desta maneira, devemos realizar uma autoavaliação, à luz da psicanálise, sobre nossa estruturação libidinal. A grosso modo, libido é uma força impulsiva que nos direciona em busca do prazer, obtendo avanços ou retrocessos, perpassando conflitos e criando pontos de fixação que retornarão como traços de personalidade ou comportamentos presentes até a vida adulta quando uma crise emocional aparecer.

Aqui, a prioridade não é expor sobre as fases de desenvolvimento psicossexual, mas as organizações psíquicas oriundas de seus pontos de fixação para elucidar comportamentos e emoções em contexto organizacional entre líderes e liderados.

1. Comunicação e Neurose no Contexto Profissional

Freud afirmava que “neuróticos somos todos”, pois todos queremos realizar nossos desejos (pulsão libidinal) mas não é sempre que podemos realiza-los imediatamente. Dentro do ambiente corporativo ou trazido na bagagem psíquica, os indivíduos podem apresentar certo grau de sofrimento e desadaptação. O que acarreta deste sofrimento é manifestado em alterações de comportamentos que podem ter um alto grau de conflitos neuróticos inconscientes que atrapalham nossa rotina com sintomas. Entretanto, nosso formidável Ego não quer vivenciar estes conflitos, então ele ativa seus mecanismos de defesa para se/nos proteger.

Em minha pesquisa para este artigo, os mecanismos de defesa que o Ego dos indivíduos mais utiliza são: recalcamento, regressão e sublimação. Estes serão expostos abaixo.

2. Psicose na Liderança

A posição de líder dentro de uma organização é bastante solitária, ao passo que o líder é o exemplo e dissemina valores, autenticidade, transparência e verdade aos liderados. Com este grande peso da função que exerce, não é de se estranhar que líderes desenvolvam estado mental psicótico, perdendo a ligação com a realidade. Há líderes psicóticos que mudam de personalidade, têm os pensamentos desordenados e problemas sociais, assim como dificuldades ao realizar as tarefas.

Na psicose, o Ego está fragmentado, dando espaço para que o Id crie uma realidade para se defender e suportar a angústia e o sofrimento. O mecanismo de defesa psicótico mais percebido foi a Idealização, que é uma fantasia e negação da realidade para defender o psiquismo do desamparo registrado no inconsciente: o líder enxerga no liderado somente o que ele gostaria que o liderado fosse.

3. Esquizofrenia na Dinâmica do Grupo

Nesta configuração, a equipe não age de forma unida; ao contrário, há uma desagregação que traz pontos de fixação das fases oral e anal do desenvolvimento psicossexual: incapacidade de cumprir tarefas sem a supervisão do líder, fofocas, dificuldades em expressar sentimentos e competitividade, para mencionar alguns. Sendo a esquizofrenia uma das condições que mais afastam trabalhadores, o Id cria uma realidade alternativa que pode acompanhar alucinações, alterações do raciocínio lógico, isolamento e distanciamento. Estas manifestações fragmentam a comunicação e a construção de relações colaborativas.

4. Líderes como Figuras Parentais

Pode-se afirmar que o líder é o profissional na organização que tem a possibilidade de enfrentar obstáculos para defender os interesses dos liderados e correr riscos para cumprir metas. Coincidentemente ou não, estas características fazem alguns liderados enxergarem os líderes como figura de pai ou mãe, mesmo que inconscientemente. Há um conjunto de sentimentos, comportamentos e afetos parentais que o liderado transfere ao líder.

Há, também, os líderes que sentem a necessidade afetiva de ser pai ou mãe de liderados. Sobre esta relação, Freud abordou a ideia de transferência, onde os padrões emocionais e as relações do passado são transferidos para as interações presentes. Se um líder desenvolve uma dependência emocional e assume o papel de pai ou mãe para seus liderados, isso poderia ser elaborado como uma manifestação da transferência de conduções parentais não resolvidas.

Freud dizia que compreender essas dinâmicas inconscientes, tanto as do líder quanto as dos liderados, poderia levar a insights e, essencialmente, à resolução desses padrões.

5. Estudos de Caso

Dentre os cinquenta e dois líderes e liderados participantes da pesquisa, 58% disseram que costumam sentir ansiedade excessiva no ambiente de trabalho. Em situações de estresse durante a carga horária, há diversos momentos de pressão que não são elaborados de forma consciente: muitos perdem o controle emocional com choro intenso e alguns até sublimam a energia libidinal se ocupando com mais trabalho para não ter que lidar com as situações.

Pode-se perceber que as relações interpessoais entre líderes e liderados é quase predominantemente superficial com sentimentos de não-realização profissional. As dificuldades de comunicação com a equipe é enorme e o feedback não é eficaz, ou é até mesmo inexistente. Mais líderes do que liderados disseram que sentem necessidade de feedback para afirmar sua posição na corporação; ao passo que alguns liderados disseram que ficam chateados quando o feedback é composto por críticas, levando-as para o lado pessoal.

Quando perguntados sobre como se sentem diante das responsabilidades no ambiente de trabalho, 70% dos respondentes se sentem incapacitados de cumprir com as metas pelos seguintes motivos: auto cobrança excessiva, falta de apoio, desorganização, sentimento de estar a deriva. Lidar com mudanças e manter uma rotina habitual são tarefas que mostraram gerar bastante ansiedade e perda da qualidade de sono. A medida que 50% reconhece que têm hábitos obsessivo-compulsivos com desequilíbrio emocional no ambiente de trabalho, destes 70% já buscou ajuda profissional.

6. Estratégias de Intervenção Terapêutica

A psicanálise pode oferecer tratamento para autoconhecimento e melhora da comunicação interpessoal, promovendo um ambiente de trabalho saudável. Encontrar um psicanalista que te leve a construir uma relação de confiança para facilitar a comunicação aberta e o entendimento das suas manifestações psíquicas é de suma importância. Nas sessões psicanalíticas você investigará pensamentos, sentimentos e memórias latentes, permitindo que você compreenda suas motivações e comportamentos de maneira eficaz. O foco será sempre em lidar com questões mais profundas e explorar suas resistências à comunicação, ajudando a superar barreiras limitantes. Leve para a análise as questões que você enfrenta no ambiente corporativo, visando investigar padrões relacionais para entender melhor as dinâmicas psíquicas no contexto profissional.

Conclusão

Fica evidente que manter uma relação saudável dentro de um ambiente corporativo não é de todo uma experiência fácil, pois cada líder e cada liderado é uma pessoa única, individual. Com as exigências do Id e as censuras do Superego, o Ego entra em ação para fugir do desprazer desse conflito psíquico.

Os pontos de fixação em fases de desenvolvimento psicossexual observados nesta pesquisa mostram que o investimento objetal fora deturpado e que as manifestações psíquicas na vida adulta fazem uma regressão para lidar com a situação, retomando antigos comportamentos infantis, típicos de um período inicial da vida.

Freud disse que a psicopatologia é parte do cotidiano de todas as pessoas, logo não há motivo para se estressar (mais)!

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Influência das Redes Sociais Digitais na formação de Identidades e Ansiedades

I. Introdução

Uma abordagem psicanalítica contemporânea considera as complexidades das interações on-line e o impacto no uso das redes sociais, reconhecendo que as plataformas digitais têm um papel crucial na formação da adolescência psíquica (até os 27 anos de idade), influenciando a autoimagem e a constante busca por validação.

A psicanálise explora os desafios emocionais nas redes sociais digitais, destacando a desconexão emocional, ansiedade e depressão como preocupações relevantes.

O entendimento das ansiedades modernas é abordado sob a perspectiva psicanalítica buscando estratégias específicas para lidar com as demandas únicas da sociedade contemporânea. Além disso, há uma investigação ativa na confluência entre a neurociência e a urgência emocional na tão famigerada era digital, buscando correlações entre os padrões neurais e o comportamento emocional.

Em resumo, em 2024 o maior desafio de psicanalistas será o de se empenhar em integrar os princípios fundamentais de Freud às dinâmicas complexas da era digital, visando compreender e abordar as questões emocionais emergentes na vida dos indivíduos nesse contexto tecnológico, visto que a tecnologia faz parte do contexto social e as relações virtuais avançam rapidamente enquanto a maturidade desacelera.

II. Influência das Redes Sociais na Formação da Identidade do Indivíduo

Há uma década, e com maior foco durante a pandemia de COVID-19, onde a maior exposição social se deu sem interação física entre os indivíduos, a presença virtual tornou-se um terreno fértil para a construção da identidade social. O excesso de exposição nas redes sociais, entretanto, não apenas reflete, mas influencia a autoimagem e a autoestima, criando uma interconexão entre o self real e o digital. A psicanálise revela que a busca por validação on-line é uma expressão contemporânea do desejo fundamental de reconhecimento e aceitação. Essa eterna busca por aprovação virtual sugere uma vulnerabilidade latente, revelando a necessidade contínua de compreender as dinâmicas psíquicas que moldam as interações digitais e impactam a formação da identidade na sociedade atual.

III. Desafios Emocionais na Era das Redes Sociais Digitais

Na interação digital emergem emoções complexas que a psicanálise busca compreender. A análise das dinâmicas emocionais on-line revela uma interconexão entre a expressão virtual e as emoções profundas do indivíduo. A desconexão emocional, fenômeno psicanalítico contemporâneo, reflete-se nas relações digitais, onde o isolamento e a superficialidade muitas vezes substituem a autenticidade emocional. Essa desconexão pode gerar consequências significativas, impactando a saúde mental e os relacionamentos cara a cara. A psicanálise explora as raízes psíquicas dessa desconexão, desvelando os mecanismos de defesa que surgem na interação digital. Nesse contexto, considerações sobre ansiedade e depressão na era digital destacam-se como desafios psicológicos urgentes, exigindo uma compreensão psicanalítica sensível às nuances emocionais do mundo virtual. Criamos uma idealização além das aparências quando pensamos que o feed do outro está sempre melhor que o nosso. Quando paramos para observar, o que nós descobrimos? Nesta autoanálise, compreendemos que temos dificuldade em mostrar nossa realidade, então buscamos subterfúgios nas redes sociais digitais.

IV. Compreensão e Tratamento das Ansiedades Modernas

A psicanálise de Freud, combinada com perspectivas contemporâneas, compreende as ansiedades decorrentes da exposição às redes sociais digitais como uma manifestação da busca por reconhecimento e validação. Freudianamente, as redes sociais digitais podem ser vistas como espaços psicodinâmicos para atender às necessidades do ego e do superego.

O ego, em busca de gratificação e reconhecimento, encontra nas interações on-line uma arena para construir uma imagem idealizada de si mesmo. A busca por likes e comentários alimenta a necessidade de validação social e reforça a autoestima.

Quanto ao superego, as redes sociais também podem servir como plataformas para a internalização de normas sociais e ideais culturais. A pressão por conformidade, a busca por padrões estéticos e comportamentais específicos on-line reflete a influência do superego na autorregulação do comportamento.

Psicanalistas contemporâneos exploram a influência das dinâmicas on-line no inconsciente, destacando a pressão por conformidade e a comparação constante. Estratégias terapêuticas incluem análise das transferências digitais, desconstrução de idealizações on-line e desenvolvimento de uma autoimagem mais realista.

Tratamentos com psicanálise focados na autorreflexão e desconstrução de padrões de pensamento disfuncionais, e a terapia cognitivo-comportamental direcionada a modificar comportamentos e pensamentos negativos podem ser eficazes na abordagem das ansiedades relacionadas à exposição nas redes sociais.

V. Neurociência e a Necessidade Urgente de Redes Sociais Digitais

A neurociência empreende a investigação das bases neurais da urgência emocional na era digital, destacando conexões intrincadas entre o cérebro e comportamentos emocionais nomofóbicos associados às redes sociais. A nomofobia, ou o medo de ficar sem o telefone celular, revela-se como um fenômeno contemporâneo em que a urgência emocional se manifesta de maneira intensa.

A compreensão neurocientífica dessas respostas emocionais oferece insights sobre os circuitos cerebrais subjacentes, esboçando padrões de ativação neuronal durante interações digitais e desconexão virtual. As implicações para a psicanálise residem na incorporação desses conhecimentos, permitindo uma abordagem mais holística. A compreensão das bases neurais da urgência emocional oferece um terreno comum para a neurociência e a psicanálise dialogarem, promovendo uma visão integrada do comportamento emocional na era digital. O analista, ao considerar essas descobertas, pode adaptar suas estratégias terapêuticas, reconhecendo a interação entre o ambiente digital e os processos mentais profundos, enriquecendo assim a compreensão e o tratamento das questões emocionais contemporâneas.

O uso de redes sociais digitais pode envolver a ativação de vários neurotransmissores no cérebro. Dois neurotransmissores comumente associados a essa interação são a dopamina e a serotonina.

A Dopamina está envolvida no sistema de recompensa e é liberada durante atividades prazerosas, incluindo receber likes, comentários e interações positivas nas redes sociais. Essa sensação de recompensa pode criar uma associação positiva com o uso dessas plataformas, contribuindo para padrões de comportamento repetitivos.

A Serotonina é o neurotransmissor que desempenha um papel crucial no regulamento do humor e das emoções. A exposição a conteúdos emocionais nas redes sociais pode influenciar a liberação de serotonina, afetando o estado emocional do usuário.

Essas respostas neuroquímicas podem criar um ciclo de recompensa que contribui para o engajamento contínuo nas redes sociais. No entanto, é importante notar que as respostas neuroquímicas podem variar entre indivíduos e dependem de vários fatores, incluindo personalidade, experiências passadas e o contexto geral de uso das redes sociais.

Em contrapartida, o uso excessivo das redes sociais digitais pode influenciar negativamente alguns neurotransmissores, embora seja importante notar que a resposta neuroquímica pode variar entre indivíduos. Alguns neurotransmissores que podem ser afetados incluem os mesmos descritos acima que trazem satisfação e felicidade, assim como outros dois neurotransmissores importantes.

Embora a dopamina seja associada a recompensas e prazer, um uso excessivo das redes sociais, especialmente em situações de comparação constante, pode levar a necessidade de recompensa constante e trazer dificuldades para lidar com a ansiedade. Nesse cenário, a hiperatividade e o déficit de atenção se fazem presentes quando precisamos interagir com outro indivíduo, fisicamente.

A exposição constante a conteúdos negativos ou estressantes nas redes sociais pode afetar a regulação da serotonina, contribuindo para alterações no humor e até mesmo para sintomas de ansiedade e depressão.

O uso excessivo das redes sociais pode, em alguns casos, substituir as interações sociais cara a cara, reduzindo a liberação de oxitocina, um neurotransmissor associado ao vínculo social e à confiança.

Embora não seja um neurotransmissor, o cortisol é um hormônio associado ao estresse. Exposição constante a situações de comparação, julgamento e ansiedade nas redes sociais pode contribuir para níveis elevados de cortisol.

Essas influências negativas sobre os neurotransmissores podem contribuir para problemas de saúde mental quando o uso das redes sociais se torna excessivo ou desencadeia emoções negativas de forma consistente.

VI. Conclusão

Em um mundo cada vez mais digital, o sofrimento emocional torna-se intricadamente entrelaçado com as complexidades da era virtual. Convido todos os indivíduos que estão lendo este artigo a reconhecer a importância da abordagem psicanalítica como uma ferramenta valiosa para compreender e tratar as questões emocionais contemporâneas. Reforço que não é sobre você não utilizar redes sociais digitais, mas é sobre você saber utilizá-las e saber externalizar suas emoções.

Para aqueles que enfrentam angústias na era digital, considere a busca por tratamento psicanalítico. A psicanálise oferece uma compreensão profunda das dinâmicas inconscientes relacionadas às interações on-line, proporcionando uma jornada rumo à autorreflexão e bem-estar emocional.

Aos psicanalistas, é o momento de se especializar no entendimento e tratamento dos distúrbios emocionais decorrentes da era digital. Abraçar a integração de abordagens psicanalíticas nesse contexto é vital para oferecer suporte eficaz àqueles que buscam compreensão e cura.

Quem amamos é quem mais nos machuca.

 Em psicanálise,  sentimentos  de dor ou mal-estar causados por palavras de uma pessoa querida, como um namorado ou amigo verdadeiro, estão ...